Manifestação


Fernanda Barth - Mestre em Ciência Política pela UFRGS, integrante do Núcleo de Inteligência Política do Instituto Methodus realizou uma análise da manifestação do dia 15 de março de 2015.

A manifestação do dia 15 de março - a maior desde as Diretas Já - surpreendeu em termos numéricos até quem ajudou a mobilizar pessoas pelas redes, como o Movimento Brasil Livre ou o Vem Para a Rua. Diversas ações do governo, notícias envolvendo a Operação Lava Jato e opiniões difundidas nas redes ajudaram a engrossar o caldo da indignação que levou mais de 2 milhões de pessoas a saírem de casa. Entre alguns destes fatos podemos destacar o Ministro Dias Tóffoli assumir uma cadeira na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), colegiado que vai julgar as ações da Operação Lava Jato; o discurso da presidente Dilma, no Dia Internacional da Mulher (08/03), que culminou no panelaço; a estratégia equivocada dos governistas e de formadores de opinião da esquerda de taxar de golpistas e de elite quem pretendia se manifestar dia 15 e, por fim, a convocação que Lula fez para que a CUT, MST e UNE saíssem em defesa do governo na sexta-feira, dia 13/03. Depois coroadas por imagens de gente sendo paga para participar, aumentando o nível da indignação popular.

Os dois principais fatores que levaram a população insatisfeita às ruas são a contínua escalada da corrupção e a crise econômica que o país enfrenta com a volta da inflação. E ainda, o aumento do custo de vida e o fantasma do desemprego que renasce com a recessão. É preciso lembrar que a diferença entre as manifestações de junho de 2013 e a de 15 de março de 2015 é que na primeira o país não estava enfrentando crise econômica ou recessão. Quase não havia inflação. A energia elétrica estava subsidiada, os combustíveis em preço razoável. Os programas sociais, a saúde e a educação não estavam sob corte de recursos. E mesmo assim, milhares foram às ruas.

Hoje a sensação é de que tudo piorou e as respostas que a população pedia em 2013, como o enfrentamento da corrupção e a prestação de serviços públicos de qualidade, não foram dadas. O manifesto de 15/03 foi sem bandeiras de partidos. A parcela de manifestantes a favor da intervenção militar foi insignificante. A parcela a favor do impeachment esteve presente na multidão. Já a parcela a favor da democracia, contra a corrupção e por melhoras e reformas imediatas foi maioria. Estavam contra o PT e seu governo mas não estavam a favor do PSDB ou de nenhum outro partido.

Na tentativa de esvaziar o movimento, o governo do PT tentou enquadrá-lo na visão dualística de sociedade que a dialética marxista possui - esquerda x direita, ricos x pobres - taxando-o de “de direita” ou “contra a esquerda e os movimentos sociais”. Na verdade, a direita ou centro direita sai fortalecida e perde a vergonha de mostrar a cara, mas os atos do dia 15 foram espontâneos, pacíficos e multifacetados. Acima de partidos ou ideologias.

Agora, no mesmo dia em que Dilma lança pacote de medidas anticorrupção (18/03), transformando a prática de caixa 2 em crime, regulamentando a lei federal e ampliando o Ficha Limpa, sai pesquisa mostrando que Dilma alcançou 62% de desaprovação em seu 3º mês de mandato (Datafolha). Este é o pior índice de um presidente desde 1992 quando Collor alcançou 68% na véspera de sofrer impeachment. A taxa média de aprovação caiu de 23% para 13%.
A rejeição à presidente é homogênea entre todas as classes sociais e estados brasileiros. O que a voz das ruas diz, de forma alta e clara é


"estamos indignados com o que acontece no país e queremos mudança"

Foto: Caetanno Freitas/G1


E isto, está refletido na pesquisa. Independente de outros partidos estarem envolvidos ou do desgaste generalizado da classe política é o PT que sai carimbado de forma extremamente negativa pelas práticas comprovadas no processo do Mensalão e denunciadas na Lava Jato. De uma forma difícil de se defender. Nos dois eram os tesoureiros do partido que tinham papel proeminente na arrecadação e distribuição dos recursos desviados.

O Partido dos Trabalhadores e o governo precisam compreender o que está acontecendo sob o risco desta deterioração de imagem se tornar irreversível. Precisam ver que é a sociedade civil, na maioria classe média e a classe média emergente que está nas ruas. São cidadãos que não aceitam mais impunidade, corrupção e que estão vendo o orçamento doméstico corroído pela alta do custo de vida e dos impostos, sem serviços de qualidade em troca. Os ingredientes que temperam o que está dentro da panela de pressão em que o Brasil se transformou estão todos aí. Cabe observar se o governo terá capacidade de reação e se as medidas anticorrupção surtirão efeito na opinião pública, pois em relação a melhora da economia, por enquanto, não há nada de positivo no horizonte. 

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